Representatividade LGBTQIAP+ no rock underground: Conheça Pedro Palma e Fake Honey

O rock sempre carregou consigo uma tradição de romper paradigmas, questionar o sistema e levantar a bandeira da “contracultura”. Principalmente o rock underground, independente, feito sem respaldo de grandes produtoras e grandes contratos, traz o discurso transgressor. Porém, quando o assunto é o cenário brasileiro, as bandas conhecidas por ocuparem o rock underground são em sua maioria formadas sem muita diversidade: homens heterossexuais, cisgênero, à frente dos instrumentos. Essa configuração não parece acompanhar uma crescente dos últimos anos, que coloca na ordem do dia o assunto da diversidade sexual e de uma representatividade de gênero no rock.

Transgredindo performances de gênero

Fora do Brasil, nos últimos anos, a banda italiana Maneskin teve parte do seu sucesso relacionado à maneira com a qual seus integrantes se vestem e se comportam. O vocalista, Damiano David, que atualmente comanda sua carreira solo, apesar de ser um homem heterossexual, fez várias apresentações e aparições em premiações e tapetes vermelhos usando peças de roupa consideradas femininas, além de maquiagem, unhas pintadas e salto alto. A baixista da banda, Victoria de Angelis, é uma mulher bissexual e namora publicamente outra mulher. O fato de serem todos muito jovens e terem na sua performance pública essa desobediência e uma transgressão das performances tradicionais de gênero fez com que muitos outros jovens e também adolescentes se identificassem com o grupo. Mas para além deles, outros exemplos dentro do rock são mais difíceis de serem encontrados, ao contrário da música pop, onde hoje existem diversos cantores e cantoras que trazem consigo uma quebra de paradigmas.

E como fica o cenário brasileiro?

O Brasil, principalmente nos anos de redemocratização após o fim da Ditadura Militar, viveu um boom artístico no qual diversos artistas e bandas faziam uma arte questionadora, em diferentes gêneros. Planet Hemp, Titãs, Legião Urbana, Racionais MC’s, Gilberto Gil, Rita Lee, entre outros, inclusive aqueles como Ney Matogrosso, um ícone da comunidade LGBT que ainda durante o regime ditatorial fazia canções e apresentações que enfrentavam tudo aquilo que o sistema definia como probido, errado, pecaminoso.

No entanto, mais de trinta anos depois, a representatividade para a comunidade queer no rock está cada vez mais escassa, e por falta de espaço e reconhecimento. Principalmente no cenário underground, vemos poucos eventos com diversidade de artistas nos lineups, e isso gera uma exclusão e cria inúmeras barreiras para aqueles que estão fazendo sua arte, mas não encontram espaço, assim como o público LGBT que frequenta esses eventos e faz parte desse nicho, e não se sentem representados.

Mas tem gente trabalhando, fazendo sua arte e fazendo a diferença. Pedro Palma (@pedropalma no Instagram), artista de São Paulo, desde os 15 anos de idade liderava sua primeira banda de rock. Hoje em carreira solo desde 2022, Pedro já tem dois EP’s lançados e recentemente, em junho deste ano, lançou “Emocional”, seu álbum de estreia. Em entrevista para a MADM, ele comenta: “Pra mim, é importante poder externar o quão orgulhoso de quem eu sou, eu sou, e que isso, de alguma forma, sirva de inspiração para as pessoas que me acompanham. (…) Dentro do cenário do rock, eu acho que é muito contraditório. Porque o rock sempre foi transgressor, sobre romper paradigmas, só que eu não sinto que a gente tem tanta representatividade LGBT dentro do rock.” Ele, que fala abertamente sobre ser homossexual nas redes sociais e em suas músicas, acredita que falta essa representação na mídia, e que seja importante ocupar esses espaços.

Pedro Palma: Divulgação

A banda carioca Fake Honey (@wefakehoney no Instagram) também traz representatividade queer ao cenário. Formada por Carol Rezende e Isabela Lorio, o duo é um nome que vem ganhando destaque no rock independente do Rio de Janeiro, por suas apresentações energéticas e suas versões criativas de hits da música pop. Além disso, as duas orgulhosamente se relacionam com outras mulheres e falam disso nos shows, e assim como aparece na bio do Instagram, são uma banda de rock feita por mulheres.

Em um papo com a MADM, Isabela Lorio comenta: “Carol e eu começamos a sonhar em tocar e ter uma banda desde que éramos crianças. Passamos por vários lugares e, em muitos deles, éramos as únicas mulheres tocando rock e cantando sobre aquilo em que acreditamos e gostamos. Crescemos com pouquíssimas mulheres abertamente lésbicas em quem pudéssemos nos inspirar. Então, ser abertamente nós mesmas, em qualquer lugar, pela primeira vez, parecia algo aterrorizante. (…) Mas, desde o nosso primeiro show como banda, vemos várias meninas nos agradecendo por fazermos a banda acontecer.”

Fake Honey

Simplesmente por serem quem são, se orgulharem e estarem movimentando a cena independente, tanto a Fake Honey quanto o Pedro Palma são nomes inspiradores, que mostram que a representatividade é importante em todos os espaços, e no rock independente não poderia ser diferente.

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