Quantos artistas brasileiros criam conceitos marcantes?

A turnê “Coisas Naturais“, do terceiro álbum de estúdio de Marina Sena, tem dado o que falar na internet. Desde o seu debut na indústria, com o disco de estreia “De Primeira“, a cantora do interior de Minas Gerais, entregou ao público conceitos bem trabalhados, baseados em cores, sensações e estética marcante. Com o passar dos anos, Marina se tornou um dos maiores nomes da música atual, carregando uma legião de fãs fiéis por onde passa.

Agora, a artista cruza o Brasil de ponta a ponta com a turnê de seu novo disco, que apresenta ao público uma estética ligada à natureza, espiritualidade, um palco com menos dançarinos e uma viagem interna à persona de Marina Sena. O microfone ornamentado e as peças de cabeça que compõem o figurino chamam atenção de qualquer um que assiste ao show, e praticamente conversam com os atabaques presentes na sonoridade das músicas. Nessa fase, cada detalhe conta: desde a iluminação até o jogo de câmeras no telão projetado, nada é por acaso.

Marina Sena via Instagram (@amarinasena)

O resultado: é impossível checar as redes sociais em dias pós show de Marina Sena sem que os fãs estejam comentando sobre a sua energia, sobre a cantora ser “uma bruxona”, como muitos comentam. Além da experiência sensorial, a nova fase da cantora entregou ao público uma estética de moda marcada por pouca roupa e acessórios ao máximo: cintos, panos, brincos, cores. A cada show, o público comparece e entrega looks lindos inspirados na cantora. A pergunta que fica, diante dos comentários feitos nas redes sociais é: o público da Marina, em sua maioria jovem, desconhece outros artistas brasileiros que tenham entregado conceitos e estéticas em seus álbuns?

O objetivo aqui, que fique claro, não é desmerecer a brilhante carreira que a artista vem construindo. Mas, na verdade, provocar uma reflexão sobre a prática comum na atualidade em empregar exageros e superlativos quando queremos elogiar artistas. A estética do “Coisas Naturais“, de fato, entrega o que promete, e chama atenção já que são poucos os artistas da nova geração que conseguem vender uma ideia, um conceito, assim como Marina Sena conseguiu. Podemos citar “Caju“, de Liniker, que implacou produtos de merchan e levou o público para viajar dentro do disco, ou Duda Beat, que na “Tara & Tour” entregou visuais, videoclipes e uma estética voltada para as músicas com elementos eletrônicos e batidas dançantes.

Porém, vale relembrar o legado deixado por artistas como Os Mutantes, com capas de discos icônicas, pinturas corporais e videoclipes que quebraram barreiras na época dos lançamentos. Lembremos também de Ney Matogrosso, que até os dias de hoje inspira e encanta com seus figurinos fabulosos e performances provocativas, dentre tantos outros, como Rita Lee e Pitty, que trouxeram a estética e o conceito rock n’ roll para sua músicas, videoclipes e figurinos.

Fato é que a música brasileira segue se renovando, com artistas incríveis como Baiana System, que trazem a forte crítica social junto à sonoridade afro-baiana, Pabllo Vittar, que entrega conceito por onde passa, Anavitória, com sua sonoridade folk-romântica, e essa renovação deve ser valorizada e apreciada pelas novas gerações, sem que se esqueça aqueles que vieram antes e pavimentaram caminho para inspirar novos conceitos e estéticas.

leia também

Glória Groove se despede da era “Serenata da GG” com música inédita

Depois de conquistar, surpreender e arrancar elogios com a...

Como o ego e a competitividade sufocam a cena underground

O conceito de underground, pelo menos como conhecemos hoje,...

Lucro x Talento: a lógica dos reality shows musicais coreanos

O talento ainda importa? Após a line-up final do reality...

BRAZA leva seu “Baile Cítrico Utrópico Solar” ao Circo Voador dia 03 de outubro

O disco marca o retorno da banda ao estúdio...

Cypress Hill só canta sobre maconha? O lado político e social do grupo de rap

É fato que quando você ouve o nome “Cypress...