Por que seguimos obcecados pelo Oasis, se eles são superestimados?

Faltando 5 meses pra chegada do Oasis no Brasil com a Live ’25 Tour, resolvemos fazer este questionamento. Eles não inventaram o rock; as letras, em alguns casos, pareciam devaneios de algum compositor bêbado. Os irmãos Gallagher? Dizem as más línguas que se manteram em voga muito mais pelas brigas do que por qualquer outra coisa. Então, o que faz do Oasis uma das bandas mais adoradas? A verdade é que o legado do Oasis resiste ao tempo e às críticas, e talvez justamente por isso, mesmo que você nunca tenha escutado algo além de Supersonic ou Wonderwall, sabe que é impossível escapar dessa euforia agridoce dos irmãos Gallagher.

Um som que parecia maior que a vida

O Oasis surgiu la no início dos anos 90, bem na época onde a Inglaterra se recuperava do grunge americano e o fim do Madchester. Entre muitas críticas e dúvidas, viraram os maiores representantes do Britpop, com um som influenciado insanamente pelos Beatles, mas com uma arrogância e ambição sem igual. Logo em 1995, com o lançamento do álbum ”(What’s the Story) Morning Glory?”, o Oasis vendeu mais de 22 milhões de cópias e tomou conta de vez do imaginário britânico e mundial.

As músicas “Don’t Look Back in Anger”, “Champagne Supernova” e “Live Forever” se tornaram hinos atemporais, não só pela melodia deliciosa que é impossível não cantar em coro, mas também por uma entrega emocional que beirava quase uma crise existencial adolescente.

Oasis cantou sobre crescer na classe trabalhadora, sonhar alto e odiar o sistema, só que tudo isso passando por refrões gigantes e letras marcantes.

Quando Liam canta:
“Você e eu somos apenas trovões em um copo de champanhe.”
(Champagne Supernova), não fazia sentido e, ainda assim, fazia todo o sentido do mundo. Até hoje, podemos olhar pra algum momento da nossa vida e pensar: ‘ah, agora sim esse trecho faz sentido!’.

Os últimos a manter a pose de rockstar como manda o script?

Liam e Noel foram, talvez, os últimos rockstars. Brigavam no palco; fora dele; se xingavam pela imprensa; xingavam a própria imprensa; xingavam outros artistas; mas ainda assim criavam juntos músicas que faziam estádios inteiros cantarem em uníssono. A arrogância que beirava a falta de profissionalismo era, na verdade, personalidade pura e crua de dois irmãos de Manchester que nunca se encaixaram nos moldes politicamente corretos que eram exigidos.

Um exemplo? Durante uma discussão com o ex-jogador Jamie Carragher, Liam provocou:
“O Oasis dá um banho nos Beatles. Quantas vezes eles tocaram em Knebworth?”

Essa confiança (ou prepotência, dependendo do ponto de vista e sensibilidade também) gerava fúria entre críticos e adoração entre os fãs. Em 1996, Oasis fez dois shows históricos em Knebworth Park para um público de 250 mil pessoas e, além disso, dizem que mais de 2,5 milhões tentaram ainda comprar ingressos. Foi o maior evento musical britânico desde o Live Aid. Se isso não é impacto cultural, como vocês classificariam?

Curiosidades que mostram o fenômeno

• Oasis viajou de Manchester, com apenas £25 cada, para tocar em Glasgow como atração de abertura do Sister Lovers. Foram inicialmente barrados, pois não constavam na lista, mas ameaçaram “quebrar o clube” se não liberassem o palco. Conseguiram se apresentar.

• O dono da Creation Records foi ao show “por acidente”, chegando cedo para ver outra banda. Quando Oasis subiu, ele ficou impressionado. Após a segunda música, já sabia que queria assinar com eles.

• Durante a primeira turnê norte-americana, no Whisky a Go Go, em setembro de 1994, os irmãos estavam descontrolados, supostamente sob efeito de metanfetamina. No palco, Liam arremessou um pandeiro contra Noel, acertando-o, e saiu do palco antes do fim da apresentação.

• A famosa entrevista polêmica chamada “Wibbling Rivalry” (1995), onde Liam e Noel se xingam, foi lançada em um single e alcançou o #52 no UK Singles Chart.

Mas afinal, são superestimados?

Depende de quem responde. Eles não eram os mais técnicos, nem os mais profissionais ou polidos. Mas talvez seja justamente essa a combinação de sucesso: a sujeira misturada com uma genialidade lírica e destemida.

Antes da fama, da arrogância e de todas as brigas ridiculamente públicas, Liam e Noel eram apenas dois garotos criados em Manchester, no bairro operário de Burnage.

A infância deles foi marcada por pobreza e violência doméstica por parte do pai, Thomas Gallagher, que era abusivo (física e psicologicamente). A mãe, Peggy, acabou criando os seus três filhos praticamente sozinha depois que se separou do marido.

Essa origem quase que com certeza molda a personalidade da banda. Afinal, o Oasis não nasceu de grandes escolas de arte ou de gravadoras super bem conectadas em Londres. Eles vieram do desemprego, da alienação e de um sentimento latente de que não eram ouvidos.

Noel trabalhou como roadie e Liam era um adolescente chato e problemático que só se aproximou da música depois tomar uma surra na rua. Esse jeito explosivo dos irmãos sempre foi, em parte, um reflexo de onde vieram, uma forma de existir na base do grito, já que ninguém prestava muita atenção.

Nada no comportamento deles foi domesticado e, talvez, seja por isso que, mesmo nos momentos mais controversos, aliados a uma musicalidade crua e original, o Oasis parecia o mais próximo de algo real que tínhamos na indústria musical.

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