Por que artistas que denunciam estão sendo silenciados?

O que artistas fazem de tão grave que incomoda tanto ao ponto de serem censurados?
IMPORTANTÍSSIMO dizer que: quando aqui falo de censura, não estou defendendo a tal “liberdade artística” que é, na verdade, um escudo disfarçado para racismo, homofobia, apologia à violência e preconceitos de qualquer tipo. A crítica recai cem por cento sobre o silenciamento daquele tipo de arte que conscientiza, questiona, expõe e defende.

Mas afinal, o que é censura?

De forma clara, censura é todo tipo de restrição à livre expressão de ideias, especialmente quando imposta por instituições públicas ou privadas com poder sobre a circulação dessas ideias.
Ela pode ser direta (como proibir uma exposição) ou indireta (como constranger, coagir ou punir quem ousa se manifestar).

No Brasil, a liberdade de expressão está garantida pela Constituição. Porém, ainda assim, ela pode balançar sempre que a arte surge como uma fortíssima vertente de conscientização e toca em feridas como: racismo, genocídio, violência policial, injustiça social, e, claro, Palestina (palavra que vem sendo apagada de murais, camisetas, falas e algumas performances).

Censura soft

Podemos chamar de censura soft (ou censura branda) o silenciamento não declarado. Como, por exemplo, aquela que se dá através de abordagens sutis e burocráticas. Isso pode vir em forma de um parecer, patrocinadores insatisfeitos, uma demissão silenciosa, etc. É como se a ‘peça’ continuasse sendo livre, desde que ninguém tenha coragem de encenar.
Podemos dizer que é aquele tipo de repressão que a a instituição consegue dizer: “não estamos proibindo nada, mas estamos avaliando e reorganizando determinados pontos”.

E assim, sem alarde, a arte vai sendo higienizada, lavada, neutralizada e, eventualmente, desmobilizada. Com isso, ela vai sendo moldada à servir apenas ao entretenimento vazio, e não mais como uma forma bela e útil de ajudar pessoas a se conscientizarem e formarem seu pensamento crítico.

Porém, não apenas na arte isso vem acontecendo. Em maio deste ano, funcionários da gigante Microsoft descobriram que todos os e-mails que enviam com a palavra “Palestina” desapareciam misteriosamente.

Por que censurar a arte é perigoso?

A arte não nasceu apenas para te tranquilizar e ajudar a passar o tempo. Desde sempre, ela cumpre o papel importantíssimo de denunciar, dar voz àqueles que não têm e, de forma resumida, informar. É através dela que comunidades marginalizadas se fazem ouvir, que dores coletivas ganham espaço, que revoltas se tornam visíveis e injustiças podem ser combatidas de maneira mais ampla.

Hoje é um mural que é apagado. Amanhã é um artista demitido. Depois, contratos com cláusulas que restringem temas “sensíveis” (lê-se: necessários). Aos poucos, a cultura e a provocação vão sendo ocupadas por uma produção vazia de críticas e completamente adaptada para não incomodar quem financia e governa, ou até mesmo quem consome sem entender e nem conhecer.

“Neutralidade” também é escolha política e também é violência
Um dos principais argumentos usados para justificar essas práticas é a ideia de que a arte deve ser “neutra”. Mas neutralidade, nesse contexto, é a mesma coisa que conivência. Se manter calado diante de genocídio, de uma política opressora ou de injustiças sociais de maneira geral, não é (nem de longe)estar acima do conflito. É, na verdade, se posicionar e concordar silenciosamente com quem oprime.

A importância da arte como denúncia social

Durante séculos, a arte vem servindo como ferramenta de resistência. Foi através dela que se escancararam os horrores da escravidão, a violência do colonialismo, as mazelas das ditaduras. No Brasil, foi a arte que desafiou os militares, que denunciou a tortura, que gritou pelos desaparecidos, mesmo que nas entrelinhas para sua própria proteção. Mas ela estava lá, corajosa e resistente. Nem toda obra precisa te agradar, nem toda música será confortável de ouvir, nem todo poema vai ser sobre amor. E isso, justamente, é o que é necessário. Até mesmo porque, se a arte está incomodando, o problema está na realidade que ela está refletindo. Mas sinceramente, cá entre nós? Silêncio nunca resolveu nada.

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