Pop tocando rock: inovação ou profanação? Fãs brigam pelo legado do gênero.

Você já sentiu ciúmes do seu artista favorito que nem todo mundo conhecia, exceto você? Eu já. E você também já sentiu ciuminho de um determinado gênero musical? Sem hipocrisia, eu já também. Você também já ficou incomodado ao ver um artista pop arriscar versões mais pesadas dos seus maiores hits ou “emprestar” elementos do rock nas produções? Ah… eu já!
Porém, é óbvio que há quem adore essa mistura e há quem considere um verdadeiro sacrilégio.

A linha tênue entre “inovação e profanação” do rock está cada vez mais acentuada, especialmente quando o pop moderno resgata guitarras, solos, distorções ou uma estética que antes pareciam proibidas. Com exemplos recentes no Brasil e no mundo, fãs brigam enquanto os críticos ponderam: será que pop + rock pode ser combo perfeito ou é imposição de superficialidade de um gênero que sempre teve muito a dizer?

Experimentos recentes entre pop, rock e shows que dividem públicos

Podemos citar exemplos muito recentes, como o show do Matuê no The Town, onde o artista explorou arranjos que soam mais próximos do rock tradicional do que seus trabalhos convencionais com sonoridade trap. Isso foi um gatilho na energia do público, que ficou dividido entre críticas de quem achou que ele estaria traindo o que o fez famoso; aqueles que adoraram e aqueles que se sentiram ofendidos pelo rock.

O gênero rock n’roll veio contra aquilo que era aceitável musicalmente na sociedade. Os fãs mais puristas veem no pop que “toca rock” uma apropriação estética vazia, sem a crueza e sem as letras de inconformismo ou o instrumental visceral que definiram o gênero.

Por outro lado, quem defende esta fusão, aponta que é comum os gêneros evoluírem e que o pop embalado e comercial, pode (e talvez até deva), sim, ganhar corpo com guitarras, solos, atitude visual sem perder acessibilidade. Inclusive, misturar gêneros pode ser o oxigênio necessário para trazer, às vezes, a sua banda/artista favorito à tona novamente. Devemos lembrar também que o rock já se misturou em ritmos distintos em muitas fases de sua história, então por que tamanho incômodo?

Polêmicas que mostram os limites, reais ou inventados

Aqui encaixamos outro caso recente de tensão: Luísa Sonza quer “fazer um rock bem bafo” com ‘Loira Gelada’. Em entrevista recente, declarou: “Não quero que o rockeiro goste de mim. Não quero esses fãs… quero minhas gays, mulheres e pessoas do pop”. 

Ela foi alvo de críticas, não só por essa afirmação, mas também quando seu conteúdo visual e sonoro invadiu territórios mais ousados, como no álbum Escândalo Íntimo, que mistura pop com elementos que rimam com rock/pop alternativo, com clipes fortes e letras que desafiam expectativas dos ouvintes.

Parte do público afirma que ela exagera na performance visual ou sexualização, perdendo “a alma” da mensagem; outros dizem que é ação de empoderamento, de uso consciente dos próprios limites artísticos.

É válido falar também como artistas são classificados e desclassificados assim que tentam “meter guitarra” no repertório, como se o instrumento fosse um selo de autenticidade rock n’ roll, um carimbo que dá ou tira valor. Esses debates surgem tanto nas redes quanto em publicações especializadas.

Conversando sobre tudo isso com Leonardo Drums, músico de longa data e grande conhecedor e estudioso de diversos gêneros musicais, ele diz:
“Tem a questão de ser puro marketing desses artistas, logicamente, mas também temos que analisar que muitos músicos amam rock, mas focam na grana e preferem se aventurar em outros estilos musicais para poder ganhar dinheiro mesmo com o que está mais em voga e, às vezes, após ter adquirido o sucesso que queriam, decidem começar a dar vazão àquele gênero que realmente mexe com ele.”.

Respeito, legado e evolução musical

No fundo, a polêmica de pop tocando rock não é exatamente nova, mas hoje ganha proporções gigantes graças ao acesso rápido às informações, vídeos e comentários em tempo real. Desde que Britney Spears lançou seu cover de “I Love Rock’n’Roll”, enfrentando críticas severas, até Rihanna subindo no palco com Bon Jovi ou Paul McCartney colaborando com artistas pop, fica claro que a fusão entre pop e rock sempre gerou debate.

Enquanto fãs discutem, se ofendem e questionam a autenticidade do legado do rock, muitas vezes esquecem que os artistas, por trás dos palcos, colaboram, se respeitam e compartilham experiências musicais sem criar rivalidade. O que mudou realmente é a velocidade e visibilidade dessas discussões.

No fim, a mistura de gêneros, o pop incorporando elementos do rock ou o rock dialogando com o pop, revela que a música evolui, que o legado do rock continua vivo mesmo quando atravessado por sons inesperados, e que o diálogo entre estilos pode ser mais saudável e enriquecedor do que muita gente percebe.

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