Nos últimos anos foi possível observar nos roteiros de filmes hollywoodianos, nas escolhas de elenco, na construção de roteiros, em propagandas de publicidade, e na cultura pop de forma geral, o crescimento de uma preocupação com uma agenda política voltada para a inclusão de grupos sociais diversos. A fase, que rendeu bons frutos diversificando elencos e levando para as produções audiovisuais outras histórias, outros rostos, deixou às claras uma disputa cultural entre grupos que enxergavam a necessidade de mais representatividade na mídia e aqueles que não receberam com bons olhos aquilo que era visto como diferente.
No mundo da música, nunca foi muito diferente. Grupos historicamente marginalizados, como mulheres (principalmente negras, não europeias, latinas etc), negros, a população LGBTQIA+, entre outros, sempre enfrentaram mais dificuldades e obstáculos para conseguirem espaço. É claro que, diante desse contexto, alguns grupos encontraram em nichos e gêneros musicais específicos espaços de acolhimento e luta coletiva, como o rap, o rock, o punk, o hardcore e a música pop, embora esta última tenha suas contradições.
Porém, mais recentemente, dentro dos últimos 5 anos, tem ocorrido uma retomada conservadora que pode ser observada principalmente nos discursos que envolvem a mídia e a cultura pop de forma geral. A busca pela perfeição do corpo e a volta da padronização de corpos magros, a dificuldadade que muitos artistas latinos tem enfrentado com suas músicas e movimentos de extrema direita em alguns nichos do rock. Um dos casos mais recentes, e surpreendentes, foi o episódio ocorrido durante a exibição de um dos programas da DiaTV. Na ocasião, haviam três mulheres comentadoras, e elas falavam sobre o Paramore, o tempo de hiato e os lançamentos paralelos de Hayley Williams.

O problema, no caso, é que uma das comentadoras tece falas que relacionam o namoro de Hayley, vocalista da banda, com Taylor York, guitarrista, já que houveram rumores sobre um suposto término por conta de uma das músicas lançadas pela cantora recentemente, em seu projeto solo. A partir da fala, deu-se a entender que a banda Paramore teria chegado ao fim por conta do término do casal, e ainda, as comentadoras sugerem que a mesma coisa teria acontecido anos antes, quando Hayley namorou um antigo integrante da banda. Ao fim da fala, uma das moças ainda comenta que a vocalista “se apaixona demais”.
Outro caso comum de ser observado nas redes sociais é o caso vivido por Iza, após ter retomado seu relacionamento, que hoje já não existe mais, com Yuri Lima, pai de sua filha e jogador de futebol. Infelizmente, bem comum que nos deparemos com declarações nas redes sociais de pessoas dizendo que após Iza ter retomado seu relacionamento suas músicas teriam “perdido a graça” ou comentários similares, como se a valorizaação de seu trabalho tivesse uma relação direta com as atitudes da cantora em âmbito privado.
O objetivo aqui não é culpar aqueles que reproduzem os discursos, mas chamar atenção para algo que atinge artistas mulheres enquanto os artistas e figuras públicas masculinas não sofrem consequências em suas carreiras por atitudes da vida pessoal. O próprio Yuri Lima não foi cobrado após trair sua esposa grávida, assim como Neymar nunca foi cobrado por trair inúmeras vezes sua esposa. Pelo contrário, para o universo masculino, tais comportamentos são normalizados. Que nenhuma artista mulher tenha que ser desvalorizada ou desrespeitada profissionalmente por conta de sua vida pessoal, e nós possamos nos atentar com aquilo que falamos.




