A influência do funk brasileiro no K-pop

Nos últimos anos, o funk brasileiro tem conquistado destaque internacional, deixando de ser um gênero marginalizado para se tornar símbolo da cultura urbana nacional. Nascido nas favelas do Rio de Janeiro no final dos anos 1970, o ritmo surgiu da mistura de sons africanos com batidas eletrônicas e influências norte-americanas. Ao longo das décadas, o funk se reinventou, diversificou e hoje está presente nas playlists do mundo inteiro, inclusive no cenário do K-pop.

A ascensão global do funk

A projeção internacional do funk ganhou força na segunda metade da década de 2010, impulsionada principalmente por artistas como Anitta. Em 2017, hits como “Vai Malandra” e “Bum Bum Tam Tam” (de MC Fioti) quebraram barreiras e chegaram ao topo de paradas fora do Brasil.

Desde então, Anitta continuou levando o funk além das fronteiras com colaborações e lançamentos estratégicos. Seu álbum “Funk Generation” e o single “São Paulo” (com participação de The Weeknd) são exemplos de como o ritmo brasileiro pode dialogar com diferentes públicos e linguagens.

O TikTok também desempenhou um papel fundamental nessa expansão. Plataformas digitais permitiram que os beats do funk viralizassem em trends e as famosas ‘’dancinhas’’, tornando a batida inconfundível do gênero facilmente reconhecível em qualquer parte do mundo.

Funk brasileiro na Coreia do Sul

Instagram: @anitta

Na Coreia do Sul, o impacto do funk é cada vez mais evidente. Além de músicas que incorporam elementos do gênero, há também uma crescente colaboração entre artistas brasileiros e idols do K-pop.

Uma das parcerias mais emblemáticas foi entre Anitta e o grupo TXT, no single “Back for More”. A canção em inglês trouxe batidas características do funk durante os versos da cantora brasileira, que também participou ativamente das performances e clipes promocionais.

Outra colaboração marcante foi entre Pabllo Vittar e o girlgroup NMIXX no single “MEXE”. A música manteve o título e o refrão em português, além de incluir coreografias típicas do funk. Pabllo levou sua equipe de dançarinos e coreógrafos brasileiros para a produção, reforçando a autenticidade do projeto. O sucesso foi tanto que a artista chegou a figurar nas paradas musicais sul-coreanas, promovendo ainda mais a cultura brasileira no exterior.

Samples e homenagens diretas

Mais do que colaborações, o uso de samples e elementos sonoros do funk brasileiro por grupos coreanos mostra uma apropriação criativa e respeitosa do gênero.

O grupo Stray Kids, por exemplo, incorporou batidas inspiradas no funk em “LALALA”, enquanto o NCT 127 fez o mesmo em “Fact Check”. Já o girlgroup MEOVV, com a música de mesmo nome, traz um dance break fortemente influenciado pelo funk, mantendo grande parte de sua estrutura original.

O grupo Monsta X foi além ao lançar “Do What I Want”, faixa que inclui os trechos em português “as novinhas” e “como que ela vai”, referências diretas ao Tati e as Gulosas e o Furacão 2000, nomes icônicos do funk carioca. No clipe, a estética brasileira também é evidente nas roupas, nas cores e nas danças utilizadas, evocando um pouco da cultura brasileira.

Mais recentemente, o girlgroup Aespa liberou o teaser do seu comeback “Rich Man”, surpreendendo os fãs ao incluir samples com frases como “vai rolar muita put*ria” e “as mina dentro da favela”. Ainda não está confirmado se os trechos vêm de uma música já existente ou se foram gravados especialmente para a produção, mas o impacto da escolha é claro: há uma intenção explícita de dialogar com o funk brasileiro em sua forma mais crua e original. Esse teaser gerou uma onda de comentários positivos nas redes sociais, evidenciando o poder que o gênero tem de causar impacto até mesmo em contextos culturais tão distintos.

Muito além das fronteiras do Brasil

O que antes poderia parecer uma tendência passageira agora se consolida como um movimento contínuo de intercâmbio cultural. Ver um gênero tão ligado à realidade social brasileira, e tantas vezes marginalizado internamente, sendo valorizado e reinterpretado no exterior e, mais especificamente, no K-pop é um marco.

É surpreendente e, ao mesmo tempo, emocionante ver um país tão distante, com uma cultura tão diferente da nossa, fazendo referências diretas ao funk brasileiro, às suas batidas, expressões e estética. Essa troca cultural mostra não somente o poder de globalização da música, mas também a força criativa e a relevância do Brasil no cenário musical mundial.

O funk já não é mais só nosso, e isso é motivo de orgulho.

leia também

Conheça o Katseye: o girlgroup global formado com o método K-pop

O impacto do Hallyu e a fórmula de sucesso...

Los Crudos transformaram o punk americano em voz latina e queer

Nos anos 90, enquanto o punk mainstream era dominado...

A ascensão do conservadorismo no rock

O rock (e digamos que a arte como um...

O caso João Vinicius: A injustiça cometida no festival I Wanna Be Tour 2024

No dia 09 de março de 2024 aconteceu no...

Kesha x Demi Lovato: Quem foi a primeira ‘brat’ da música pop?

Antes de se popularizar a partir do aclamado álbum...