Planet Hemp: A Última Ponta não será apagada

Brasil, década de 1990. Um momento de grandes mudanças econômicas e sociais, um país que estava se reconstruindo e se encontrando após longos anos de Ditadura Militar, repressão e violência. Nesse contexto nasceram diversas bandas e artistas que aproveitaram o clima político para expressarem suas verdades e suas bandeiras, e uma delas foi o Planet Hemp. Com uma sonoridade que misturava o rap e o hardcore, o grupo carioca chegou na cena underground da cidade “fazendo a cabeça” de muita gente!

Formada a partir da amizade de Marcelo D2 com Skunk, a banda lança seu icônico disco de estreia “Usuário”, em 1995, um ano após o falecimento de Skunk. A amizade da dupla começou na época em que D2 vendia camisas de banda de rock e vinis usados no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Antes mesmo do lançamento do primeiro disco, a banda já se apresentava em casas alternativas da capital fluminense e fazia barulho na cena underground. A proposta então, seria trazer uma sonoridade de rap com rock e letras carregadas de ativismo em prol da liberdade de expressão, a cultura jovem do skate e pela descriminalização da maconha, bandeira que os tornou “os maconheiros mais famosos do Brasil”, frase que D2 costuma repetir sempre e aparece também em algumas músicas.

Após o falecimento de Skunk, membro fundador da banda, o Planet Hemp recebeu Bnegão, que honrou com maestria esse legado. Além dele, o grupo também é formado por Marcelo D2 (vocal), Formigão (baixo), Nobru (guitarra), Pedro Garcia (bateria) e Daniel Ganjaman (guitarra e teclados). Ao longo de uma discografia que reúne 7 discos de estúdio, além de álbuns ao vivo, a banda marcou gerações com músicas atemporais como “Legalize Já”, “Mantenha o Respeito”, um grito contra a violência policial, entre tantas outras que criaram uma comunidade para tantos jovens no país.

Créditos: Wilmore

Em 1997, os membros da banda foram presos acusados de “apologia às drogas”, após uma apresentação em Brasília. A partir de uma grande repercussão na imprensa, um dos momentos mais marcantes da carreira do grupo foi catalisador na consolidação de sua imagem como um símbolo nacional de resistência cultural. A prisão fortaleceu a base de fãs e agitou um debate sobre os limites da arte e da censura no país pós-ditadura.

Ao longo dessa trajetória, o Planet Hemp cultivou amizades e parcerias com nomes icônicos da música brasileira, como Chorão, Chico Science, entre outros. Agora, com o declarado fim da banda, as amizades feitas são parte de um grande legado.

Assim, após 30 anos de carreira, a banda vai encerrar suas atividades. No início desta semana, o anúncio foi feito a partir das redes sociais do grupo. O legado de resistência social, o estímulo à cultura jovem, ao skate e à luta pela liberdade de expressão serão bandeiras sempre lembradas quando escutarmos Planet Hemp, um grupo que alem de contar com letras reflexivas e politizadas, também trouxe uma sonoridade criativa, pesada e que misturou o ragga, rock e o hardcore, marcando gerações ao longo do tempo.

“O Planet Hemp vai acabar e precisava ser assim: com alto astral, entre amigos. Não é pra ficar de luto, vai ser uma comemoração de nossa história.”, diz Marcelo D2 sobre a turnê final do grupo, anunciada no início desta semana. A banda começa a maratona de shows em Salvador, dia 13 de setembro, na Concha Acústica, passando por Recife, Curitiba, entre outras cidades. Os ingressos já estão à venda no site da Eventim, com exceção de Salvador, que terá as vendas de ingressos via Sympla.

Foto: Divulgação

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