YungBlud vem incomodando os gigantes do entretenimento que lucram com a exclusão

A revolução começa na insatisfação

Enquanto os mais hypados festivais seguem transformando a música em um artigo de luxo, o cantor britânico Yungblud decidiu remar contra a maré. Ele criou, em 2024, o Bludfest, que nada mais é do que o seu próprio festival, com ingressos a preços acessíveis. Com isso, ele coloca em prática um discurso que já não é novidade, mas que raramente é levado a sério como deveria: o de que a arte é um direito de todos, e não um privilégio reservado a quem pode pagar ou parcelar em 12 vezes (em alguns casos, com juros) apenas para ter o mínimo acesso a um show.

Já diria Mark Oshiro: anger is a gift.

Motivado pela frustração com os valores abusivos e descontrolados que são cobrados em festivais, Yungblud deixou claro que os preços de festivais tradicionais “não representam as pessoas”. Em vez de simplesmente jogar o jogo, decidiu criar uma alternativa: um espaço onde a música, a arte e a conexão com o público não fossem barradas por preços exorbitantes ou políticas ridículas de exclusividade.

Line-up de arrepiar e ingresso possível

O Bludfest tem uma proposta única que visa juntar a autenticidade com acessibilidade, como ficou nítido até agora. No festival deste ano – que ocorre em 21 de junho, no Milton Keynes Bowl -, a programação já estreia com nomes como Denzel Curry e Chase Atlantic, mostrando que é sim possível reunir artistas relevantes sem endividar de maneira cruel e sádica o público do evento. O ingresso, inclusive, custa uma fração do valor cobrado em grandes festivais e sem a promessa ilusória de que pagar caro garante conexão e a tal dita “experiência única”. Os valores começam a partir de £73.25 (cerca de R$476,13).

Setores dourados e elitismo? Não teremos!

Em suas redes sociais, Yungblud foi bem direto ao dizer que: “Não adianta dizer que seu festival é para todos se ninguém consegue pagar”. O Bludfest não tem “lounge gold”, nem “camarote premium com direito a selfie”. Em vez disso, aposta na boa e velha pista comum, onde TODO MUNDO dança junto, exatamente como era antes da indústria setorizar cada metro quadrado e medir a importância do público a partir da cor da pulseirinha.

Com relação à isso, discussão parecida tem sido feita no Brasil, após o show de Lady Gaga em Copacabana. O deputado Rodrigo Amorim, do União Brasil, apresentou recentemente em Assembleia Legislativa um projeto que visa proibir a criação de áreas VIP em shows públicos, visando justamente lutar contra a desigualdade de acesso em eventos como shows e festivais.

O Bludfest é um movimento, um respiro no meio de tanta artificialidade e que, para nossa alegria, YungBlud pretende expandir não só como festival, mas como uma forma de repensarmos a lógica elitista dos festivais. A ideia é que essa nova proposta sirva de exemplo para a indústria musical e mostre que é possível lucrar, sim, mas sem explorar.

Além disso, o evento quer ser um símbolo de resistência cultural. Se a indústria seguir ignorando os fãs em nome do lucro, que venham mais artistas como ele, dispostos a devolver a arte para quem realmente a sustenta: o povo.

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