Natural de Caxias do Sul (RS), Rafael Witt traz uma sonoridade que transita entre o folk, o pop e o indie. Em 2024, o cantor e compositor lançou seu álbum Wanderer, alcançando 1 milhão de reproduções no Spotify e desde então, vem se consolidando no cenário independente. Apesar de ter iniciado sua carreira há pouco tempo, Rafael Witt já passou com turnês no Brasil, Europa e Estados Unidos, além de participar também de projetos como House Concerts, importante para construir uma relação autêntica de proximidade e conexão intimista com seu público.
Agora, o cantor está passando em diversas cidades do país com a sua turnê nacional, a The Wanderer Tour, que teve seu início em outubro e ainda percorrerá algumas cidades em novembro de 2025, com a maior parte das datas esgotadas. Momento que marca a consolidação de seu novo álbum, e a celebração da terceira edição da Wanderer Sessions, seu mais novo projeto audiovisual, gravado no interior de Minas Gerais. A MADM bateu um papo com ele, falando sobre influências sonoras, o processo de composição do artista, a importância do encontro com os fãs, e muito mais! Você confere logo abaixo a entrevista na íntegra:
MADM: Rafael, seja bem vindo! Muito obrigada por receber a Muito Além do Microfone. Eu queria começar esse papo, então, falando sobre a sua nova turnê, a Wanderer Tour, que celebra então seu disco lançado em 2024. Queria que você falasse um pouquinho pra gente sobre o que você sente que mudou desde que você lançou o álbum até agora. O processo de encontrar com o público, levar as músicas pra galera. Como está sendo isso pra você?
Rafael Witt: Primeiramente, obrigado pelo convite. Que prazer estar aqui! Bom, eu acho que o que mais me surpreende, assim, ao longo dessa trajetória de iniciar a carreira na música é que, assim, eu estou há três anos profissionalmente, lançado minhas músicas, e esse é meu primeiro trabalho mais pensado, mais conciso, né. Mais organizado, com músicas que fazem sentido entre elas. O que me surpreende é que as pessoas cantam as músicas nos shows, e cada vez mais me contam como elas se identificam com as letras das músicas. Isso me surpreende, às vezes eu não acredito. Eu só acredito vendo, e quando vejo, eu não acredito (risos). Ainda é muito novo pra mim esse contato. Quando eu comecei minha carreira, era uma coisa muito na internet ali, durante a pandemia. Então eu via um comentário, as pessoas me mandavam mensagens e eu ficava feliz que as pessoas estavam gostando. Mas esse contato que está vindo agora, ao vivo nos shows, é aí que eu fico pensando: “Nossa, é de verdade”. Eu fico emocionado com isso, principalmente nos show, e cada vez mais, embora pareça bobo, eu vejo valor no que eu faço.

“Eu sempre fui difícil de me convencer e entender que essa arte que eu estava produzindo tinha valor para os outros.”
MADM: E falando em música, ao estudar seu som a gente percebe que sua sonoridade, ela é bastante inspirada pelo indie e pelo folk. Queríamos que você falasse um pouco sobre as suas principais referências para as suas músicas.
Rafael Witt: Nas músicas antigas, antes desse álbum, eu era muito mais focado em influências de fora, compositores como o John Mayer, o Jack Johnson que, embora tenha um som mais praiano, eu considero um folk pop… o Ed Sheeran, que quando começou a lançar músicas era um cara um pouco mais velho que eu e já fazia sucesso, lá em 2014, ganhou um Grammy, e eu ficaba pensando “nossa, que legal!”… esses caras que com voz e violão resolvem tudo e conseguem fazer um show. Também tem o lado de um som inglês, mais melancólico, uma música que te faz pensar e refletir sobre a vida. Não são músicas que se relacionam com o som brasileiro, quente, pra dançar, mesmo porque eu nasci em Caxias do Sul, na serra gaúcha, então eu nunca me identiquei muito com esse lado da música brasileira. Então eu sempre me identifiquei muito com a música dos países mais frios. Eu sempre ouvi muito Tiago Iorc, uma grande referência pra mim, aqui no Brasil, e rock brasileiro, como Legião Urbana. Minha mãe era fãzaça de Legião Urbana. No disco, algo que eu acho que fica diferente é que quando eu tive oportunidade de tocar para ingleses e irlandeses, eles sempre diziam algo como “isso não é o nosso folk, não é o que a gente faz aqui”, e daí eu acho que fica algo que para o brasileiro, não é música brasileira, mas lá fora, também soa como algo diferente… porque bom, tem sanfona, tem percussão, de forma que os ingleses por exemplo não usam para esse tipo de música. Isso me satisfaz, não saber exatamente definir o que está acontecendo ali (risos).
MADM: Como funciona, pra você, o processo de composição, já que você compõe em inglês?
Rafael Witt: Essa pergunta é muito boa, porque acho que as pessoas se perguntam isso também. O meu processo de compor em inglês veio de forma muito genuína, quando eu tinha 16, 17 anos e terminei com a minha namorada na época. Eu escrevi uma música para ela, e eu não queria que ela soubesse o que eu estava sentindo. Eu queria poder mostrar para o meu pai, para a minha mãe, e eles não entenderem que era exatamente sobre ela. Eu sempre estudei inglês, sempre tirava notas boas, e também sempre gostei de ler e escrever em inglês, então não foi difícil para mim fazer essa primeira música. Eu era muito tímido, então eu vejo que me ajudou a colocar no papel algo que eu estava sentindo sem que eu sentisse que os outros iriam me julgar. Mesmo sabendo que as pessoas iam entender, já que eu não estava usando palavras complexas, a ilusão de sentir que ningúem ia entender me confortou. A partir disso, comecei a ouvir as músicas dos artistas que eu gostava e tentar entender o porquê de terem usado uma palavra, e não outra, e tentar compor com palavras que eu não conhecia. Eu me divertia com isso, e continuo me divertindo. Sinto que é um idioma compor em um idioma que não é o meu nativo. Agora nos shows, eu gosto de explicar para as pessoas o que as músicas significam, já que no Brasil nem todo mundo entende inglês. Sinto que isso me aproxima do público. Ultimamente eu tenho me aprimorado também nas composições em português, mas ainda diria que o inglês é o meu forte.
MADM: Falando sobre a Wanderer Sessions, a gente quer saber como você enxerga, no seu trabalho, o papel das produções audiovisuais, já que você tem um trabalho vasto de audiovisual e isso chama bastante atenção no que você faz.
Rafael Witt: Ah, que bom que chamou atenção, porque isso é uma das coisas que eu mais tenho gostado de fazer ultimamente. Eu nunca fui muito de assistir clipes dos artistas que eu gosto, sempre fui mais de ouvir as músicas, então no meu trabalho, eu nunca pensei muito nisso, e mais na parte do “audio”. Então, sempre me interessou mais fazer gravações de performances ao vivo do que dos videoclipes. E essas performances, tendo um cenário, uma ideia que tenham a ver com o que eu escrevo, essa coisa mais tranquila, de uma casa na montanha, de uma vida mais introspectiva, como o Wanderer Sessions 3 que acabamos de fazer numa fazenda, no interior de Minas Gerais, o cenário parece uma casa de vó, como se a gente estivesse tomando café e comendo bolo de cenoura (risos)…e gravando esses vídeos em um cenário que retratam uma vida gostosa no interior. Acho que nesses vídeos nós conseguimos passar essa ideia, coisa que nos vídeos curtos do Instagram e do Tiktok não tem essa profundidade, tanto de direção artística como da qualidade do vídeo. Esses vídeos que fizemos estão muito bem feitos, e isso não cabe só a mim, mas a toda a equipe que trabalhou comigo. Nós gravamos com banda, trouxemos músicas lançadas antes do álbum e também releituras, que é uma parte que eu gosto muito de fazer. Fizemos uma releitura de Hozier, um artista que eu gosto muito e que está crescendo bastante nos últimos tempos e fizemos uma que viralizou nas redes sociais, que é uma versão de Duality, do Slipknot, voz e violão, e foi muito legal poder explorar essa minha vontade de fazer música de um jeito audiovisual ideal. Está uma experiência imersiva e gostosa de assistir. Muitas pessoas dizem que minhas músicas passam uma sensação de conforto, como se estivessem em um rolê com os amigos, e fazendo música, e isso remete muito à minha adolescência, e por isso eu invisto e defendo muito esse tipo de gravação.
MADM: Para encerrar, conta pra gente como estão as suas expctativas para os shows da turnê que ainda estão por vir.
Rafael Witt: Ah, eu estou bem feliz. Principalmente porque hoje eu postei que o show de Brasília, o de Curitiba e o do Rio de Janeiro estão esgotados. E isso é muito bom, porque eu não preciso mais ficar enchendo o saco divulgando (risos). Imagina só, você posta o show, todo mundo compra os ingressos, e você não precisa mais ficar pedindo por favor pra irem no seu show (risos). Então é muito bom, porque agora eu posso só ensaiar, postar meus conteúdos nas redes sociais, focar em fazer um ótimo show e conversar com os fãs. Em Curitiba, por exemplo, em 2023 eu fui fazer meu primeiro show lá, e no início da minha carreira eu inventei um jeito de encontrar meus fãs que era fazendo shows em casas, então eu alugava um espaço e fazia show ali, na sala, voz e violão para a galera. Nesse show de Curitiba, choveu muito no dia, era pra ter ido 12 pessoas, que já é pouco, e foram 7 pessoas. Choveu, deu errado, mas foi muito gostoso, foi muito legal. Ano passado, eu fiz novamente um show em Curitiba, um House Concert, que cabia 50 pessoas, e foram 55, então ficou lotadaça a casa, ficou quase ruim de assistir o show. Esse ano, eu vou tocar no Teatro Paiol, um teatro clássico de Curitiba, que cabem 217 pessoas, e lotou ontem. Vendemos o último ingresso ontem. Então é muito louco. Eu quase não acredito que as pessoas querem mesmo me ver. É legal ver as coisas acontecendo, nesses shows, acho que são a prova de que está realmente acontecendo. Eu fico muito feliz.




