Lucro x Talento: a lógica dos reality shows musicais coreanos

O talento ainda importa?

Após a line-up final do reality show Boys Planet II, uma discussão tomou conta das redes sociais: até que ponto o talento realmente é decisivo nos reality shows coreanos?

Embora trabalhem com música, as empresas de entretenimento da Coreia do Sul não se concentram apenas no canto ao treinar futuros idols. Além de habilidades vocais, de dança e rap, um conceito que ganhou força é o “star quality” — a presença, o carisma e a energia de palco de um artista. Quanto maior esse fator, maior a chance de atrair fãs e, consequentemente, gerar lucro.

Reality shows de sobrevivência: fórmula de sucesso e polêmicas

Reality shows musicais já são conhecidos no mundo todo, como The Voice, American Idol e X Factor. Na Coreia do Sul, um dos formatos mais populares é o de “survival shows”, onde dezenas de trainees competem por uma vaga em grupos formados ao final do programa.

Em 2023, a emissora Mnet lançou o Boys Planet, reunindo trainees de diversas empresas asiáticas. O sistema de eliminação funcionava por meio de votação pública, até restarem apenas os integrantes da line-up final. O programa seguiu o mesmo estilo da franquia Produce, que em quatro temporadas formou grupos temporários como I.O.I, Iz*One, Wanna One e X1 — todos extremamente populares, apesar dos contratos temporários.

Entretanto, o modelo também trouxe polêmicas. A votação pública sempre gerou debates sobre se os escolhidos realmente eram os mais talentosos ou apenas os mais populares. A situação piorou com o escândalo de fraude nas votações da Mnet, revelado após a formação do X1. A investigação provou que a emissora manipulou resultados em todas as temporadas anteriores, selecionando integrantes que julgava mais estratégicos para o sucesso comercial do grupo.

Com a credibilidade abalada, a Mnet suspendeu os programas por um período e só retomou a fórmula com a franquia Planet (Girls Planet 999, Boys Planet e Boys Planet II), prometendo votações globais e sem fraudes.

Popularidade x habilidade: a disputa nos novos grupos

Mesmo com promessas de transparência, as formações continuam sendo alvo de críticas. Afinal, em um cenário onde fãs do mundo inteiro votam, a escolha final é influenciada não somente por talento, mas também por fatores subjetivos, como identificação pessoal, afinidade cultural e até momentos divertidos exibidos nas edições do programa.

O debate voltou à tona com a estreia do grupo Alpha Drive One (ALD1), formado no Boys Planet II na última semana. O reality reuniu 160 trainees, mas apenas oito foram escolhidos para a line-up final. Muitos espectadores criticaram a forma como a edição destacou determinadas personalidades enquanto ofuscava outros participantes que poderiam ser considerados mais talentosos.

Um dos pontos mais comentados foi a eliminação precoce de trainees habilidosos em detrimento de outros que mantinham a audiência por conta de seu carisma ou momentos de atenção. Isso reforçou a percepção de que o entretenimento e a popularidade ainda têm mais peso que a habilidade artística no resultado final.

Até onde vai o planejamento das empresas?

É natural que, em competições desse tipo, nem todos os fãs fiquem satisfeitos com os resultados. Ainda assim, fica no ar a questão: até que ponto as escolhas refletem realmente o mérito artístico dos participantes?

Enquanto os reality shows coreanos seguem formando grupos de grande alcance global, a discussão persiste. O peso da popularidade diante do talento continua a ser um dos principais dilemas desse formato.

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