Neste mês de setembro de 2025, a cidade de São Paulo recebeu mais uma edição do festival The Town, entre os dias 06 e 14 de setembro. Com um lineup recheado de artistas diversos, o evento teve dias dedicados ao rock, ao trap, ao pop e à nostalgia, trazendo os Backstreet Boys para um show memorável. Porém, o primeiro dia já chegou trazendo debates interessantes sobre a prática das rodas punk durante shows.
O dia 06 de setembro abriu os trabalhos da edição deste ano, reunindo grandes nomes do trap, um dos gêneros musicais mais aquecidos da atualidade. O grande headliner do dia foi o rapper Travis Scott, que arrastou uma legião de fãs para o Autódromo de Interlagos, resultando no único dia para o qual os ingressos estavam esgotados, com um público de 100 mil pessoas. Nomes como Don Toliver, Lauryn Hill e os rappers brasileiros Filipe Ret e Matuê também fizeram parte do quadro de artistas escalados.

Embora o trap seja um gênero musical relativamente novo, quando comparado aos demais, já é fato conhecido por todos que os fãs do gênero são animados, fiéis e costumam curtir os shows com muita energia. Por conta disso, muitas similaridades aparecem com relação ao público do rock, punk e hardcore, já que em ambos é possível observar a prática das famosas rodinhas, que inclusive costumam ser estimuladas pelos artistas durante as apresentações. No entanto, o primeiro dia de The Town ficou marcado por uma superlotação e práticas desagradáveis entre o público, que fizeram com que o show do artista Don Toliver, o último a tocar antes de Travis Scott, fosse paralisado por alguns minutos, já que estava havendo violência e algumas pessoas próximas à grade estavam machucadas.
Durante o evento, embora as informações oficiais não tenham se aprofundado em detalhes, uma série de fãs que estavam no Autódromo de Interlagos publicaram na rede social X que muitas pessoas, especialmente mulheres, estavam sendo empurradas e machucadas por conta das rodas, alegando que os rapazes presentes no local estariam agindo com truculência e violência. Uma fã chegou a publicar um vídeo nas redes sociais mostrando o que estava acontecendo, comentando sua frustração por ter chegado cedo ao evento e, nas palavras dela, ter sido obrigada a se afastar nos palcos por conta da violência nas rodas.
O rapper Matuê, um dos maiores nomes do trap nacional e que foi eleito pelo G1 como um dos melhores shows da noite, deixou um comentário na postagem em questão, com a seguinte frase: “Tá com medo fica em casa“. Os dias posteriores ao primeiro dia de festival foram tomados por discussões na web, com fãs de trap de um lado, alegando que a violência faz parte das rodas e isso seria comum, e de outro, fãs de rock, punk e hardcore comentando que a prática das rodas estaria atrelada à uma série de condutas de boas práticas, uma vez que se trata de celebração coletiva, ao contrário da violência.
De fato, a prática das rodas punk são comuns no rock e seus gêneros-irmãos desde sempre, e para aqueles que costumam frequentar shows nos quais isso é comum, é possível observar momentos onde pessoas que caem são levantadas, objetos perdidos são recuperados e inclusive, algumas bandas têm adotado um discurso relativo ao respeito às mulheres nos momentos dos shows nos quais as rodas são convocadas ao público. Independente de qual opinião se tenha, sempre é importante prezar o respeito acima de tudo, uma vez que os shows, principalmente os festivais, são espaços com uma diversidade de públicos, onde ambos pagaram ingressos para estar naquele espaço aproveitando as apresentações.
Chama atenção, sem dúvidas, um gênero novo, no qual o público é majoritariamente formado por homens jovens, o apreço e replicação de práticas violentas, principalmente quando um dos maiores expoentes dessa corrente no Brasil faz um comentário público incentivando esse cenário. Se o trap se espelha no rock em arranjos de shows, roupas e ambientações, é preciso aprender com aqueles que vieram antes os fundamentos que sempre respeitaram a coletividade e a diversidade, tornando shows e festivais espaços de acolhimento e catarse coletiva.