XLOV e a Representatividade LGBTQIA+ no K-pop

Durante a infância e adolescência, buscamos referências que nos ajudem a entender quem somos e quem podemos ser. Para muitos, essas referências vêm de celebridades, artistas e figuras públicas, que mesmo à distância despertam sentimentos de pertencimento e admiração. No caso da comunidade LGBTQIA+, essa identificação é ainda mais vital. Ter figuras públicas que se assumem e se posicionam com coragem é um alívio e uma forma de apoio.

De Ney Matogrosso e Preta Gil a Kim Petras e Hayley Kiyoko, artistas que abraçam sua identidade e lutam por igualdade tornam-se símbolo de esperança. Às vezes, o simples gesto de dizer “está tudo bem” ou “isso é normal” tem um poder transformador. Ajuda a validar experiências e promove autoaceitação.

O peso da representatividade em tempos conservadores

A luta pelos direitos LGBTQIA+ continua urgente, especialmente em tempos em que discursos conservadores ganham força. É fundamental refletirmos sobre quem escolhemos admirar e apoiar, e dar destaque àqueles que usam suas vozes para promover a diversidade, o respeito e a inclusão.

Na Coreia do Sul, um país com raízes culturais ainda profundamente conservadoras em comparação ao Brasil, ser uma figura pública LGBTQIA+ é um desafio imenso. Mesmo artistas talentosos enfrentam preconceito, sendo frequentemente deixados de lado pela indústria ou pelo público. Por isso, cada passo em direção à visibilidade é valioso e corajoso.

Holland e Bain: destaques em visibilidade queer no K-pop

O cantor Holland é uma das figuras mais importantes quando se fala em representatividade LGBTQIA+ no K-pop. Desde sua estreia em 2018 com o single Neverland, que causou impacto ao exibir um beijo entre dois homens, Holland se apresentou como um artista assumidamente gay. Ele desafiou os padrões da indústria ao abordar abertamente sua sexualidade, tornando-se uma referência global e uma voz ativa dentro da comunidade queer.

Mais recentemente, o cantor Bain, integrante do grupo JUST B, protagonizou um dos momentos mais marcantes da história recente do K-pop ao se assumir gay durante um show em Los Angeles. Para um idol de grupo em atividade, esse é um gesto raro e extremamente corajoso, considerando os riscos de rejeição por parte de fãs ou patrocinadores. Ainda assim, Bain escolheu a verdade e a liberdade, inspirando muitos outros a fazerem o mesmo.

XLOV: um passo ousado rumo à diversidade

X: @XLOV_official

Outro avanço significativo em representatividade veio com o debut do grupo XLOV, formado por Wumuti, Rui, Hyun e Haru. Os integrantes, que já haviam participado de programas de sobrevivência populares, estrearam com um conceito inovador e necessário.

Desde o lançamento do single ”I’mma Be’’, o XLOV abraça um conceito agênero, rompendo com os padrões tradicionais do K-pop que frequentemente reforçam identidades de gênero rígidas. O grupo busca mostrar que identidade de gênero não deve limitar a expressão artística, mas sim ser uma ponte para a individualidade.

Além das apresentações performáticas, os integrantes do XLOV também se posicionam ativamente em interações com os fãs, reafirmando o direito de existirem fora de rótulos e expectativas normativas. Em poucos meses desde sua estreia, o grupo já alcançou reconhecimento relevante, especialmente entre jovens que se identificam como não-binários ou fora da binaridade de gênero.

Mais do que uma proposta estética, o XLOV oferece representatividade real. Suas redes sociais frequentemente abordam questões de identidade, pertencimento e liberdade, criando um espaço seguro e acolhedor para fãs que muitas vezes não se veem representados na mídia tradicional.

A presença de artistas como Holland, Bain e o grupo XLOV mostra que, mesmo em ambientes conservadores, é possível resistir, existir e criar impacto. Cada gesto, cada canção e cada fala pública contribuem para abrir espaço para que mais pessoas LGBTQIA+ possam se ver refletidas no entretenimento, não como estereótipos, mas como indivíduos completos e autênticos.

E essa representatividade não é importante apenas para os fãs. Ela também representa uma forma de libertação para os próprios artistas e idols, que muitas vezes precisam esconder sua essência e identidade para manterem suas carreiras. A possibilidade de serem quem são, sem medo ou repressão, é fundamental para a saúde mental, a dignidade e a longevidade de seus trabalhos. Mais do que nunca, visibilidade é também uma forma de sobrevivência.

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