Nos dias atuais, a Inteligência Artificial está atravessando cada vez mais espaços da sociedade. Está dentro das nossas casas, com robôs que auxiliam nas tarefas domésticas ou dentro de aparelhos eletrônicos, como as “assistentes” dos smartphones, está nas empresas, na automatização de processos, e a tecnologia chegou também no mercado musical. No entanto, há formas de empregar a inteligência artificial para colher bons frutos, mas também há o lado perverso, que aparece em diversos casos todos os dias. Casos de vazamento de dados, o fim de alguns postos de trabalho por conta da IA, ou até mesmo, falsificação de dados de streaming ou artistas falsos sendo gerados para que empresas lucrem. Além disso, outro principal pŕoblema causado por esse contexto é o impacto nas carreiras e nos números de artistas reais dentro da plataforma.
Apesar das facilidades trazidas com a inteligência artificial no mundo da música, como a autonomia para criar melodias sem necessitar de tanta estrutura, esse avanço também trouxe consigo a questão dos ouvintes falsos: redes de robôs que reproduzem músicas nos streamings repetidamente para inflar os números. Caso você nunca tenha reparado, o Sṕotify, um dos maiores streamings de música do mundo, fornece no perfil de cada artista as métricas de reprodução das músicas, e quanto mais altos, mais a canção é impulsionada pelo algoritmo.
De acordo com uma matéria publicada recentemente pelo site Wired, o esquema fraudulento envolvendo IA’s funciona assim: Plataformas de streaming, como o Spotify, dividem os pagamentos de assinaturas em um único fundo, distribuindo valores aos artistas com base na quantidade de reproduções geradas por eles. Porém, robôs estão sendo usados para escutar músicas feitas por inteligência artificial, fazendo com que seus criadores lucrem de forma despropocional, já que o custo para manter a operação dos bots é baixo.
O primeiro caso a surgir quando o Spotify removeu milhares de músicas criadas por IA envolveu a startup Boomy. As faixas, identificadas pelo Spotify como envolvidas em streaming artificial, representavam mais de 5% das músicas enviada pela empresa. Em declaração o presidente da Boomy negou manipulações intencionais, mas admitiu que haviam streamings fraudulentos.
Os artistas humanos
Esse tipo de manipulação de dados acaba gerando um impacto significativo para os artistas humanos, já que os algoritmos passam a recomendar músicas geradas pela inteligência artificial, tirando espaço e visibilidade de vários cantores e bandas, reduzindo sua participação na receita final do streaming. Isso impacta na remuneração dos artistas, e também prejudica a diversidade musical e a circulação de músicas de artistas que se esforçam todos os dias para divulgar sua arte, principalmente os independentes. De acordo com o site Wired, estudos apontam que na França, no ano de 2021, entre 1% e 3% de todos os streamings em plataformas de música foram gerados por bots, o que se traduz em bilhões de reproduções falsas.
Na indústria musical, a resposta para esse tipo de situação aparece de diferentes formas. A Universal Music Group, além de outros selos, já vinham alertando sobre a utilização de robôs e IA para fraudar streams. O presidente do Spotify, Daniel Ek, admitiu que o ritmo de evolução da IA superou a capacidade da empresa de acompanhar e verificar essas fraudes. Enquanto uns criticam e outros se beneficiam disso, fato é que os artistas reais, que já pŕecisavam enfrentar o sistema questionável de distribuição de royalties do Spotify, agora enfrentam mais uma dificuldade. É mais uma situação que demonstra a importância de valorizar os artistas que gostamos, e apoiar indo aos shows e comprando produtos, de forma a conseguir incentivar de maneira mais direta sua arte.